Livro erótico gay, “Sr. Villela, meu amigo imaginário” conta a história de um garoto de quinze anos que, durante o recreio da escola, encontra um caderno velho jogado ao lado de uma lixeira e, frente a sua solidão, resolve fazer dele seu diário.
"Era um caderno, desses grandes. Tomei-o antes mesmo de jogar fora a embalagem — meu real objetivo, em seguida cumprido. Dei alguns passos em direção ao refeitório, entrei e, enquanto todos ruidosamente comiam, eu, magrelo, olhava fixamente o caderno em minhas mãos." — trecho do prólogo do livro.
Nessa época, ele confidencia, tinha em mente inúmeras sensações e sentimentos que ele não se sentia confortável em dividir nem mesmo com o próprio travesseiro. Uma delas, era o seu desinteresse total por garotas e seu desejo latente pelos outros meninos da escola.
No dia em que ele encontra o caderno, decide subir para a sala de aula antes do recreio terminar, assim teria tempo de investigar o que tinha escrito ali. Quando ele abre o caderno, encontra um nome, “Sr. Villela”, e um cálculo de uma pequena soma em cruzeiros; nada mais. Ele arranca a folha utilizada e resolve batizar seu novo amigo, então, de “Sr. Villela”. Com o caderno em branco ele pode, finalmente, pela primeira vez, expressar o que ele sente.
“Eu não diria que tudo começa aqui, pois atração por homens é algo que eu sempre senti.” – e continuei escrevendo – “Nunca senti algo especial por meninas. Os loirinhos daqui da minha sala, os garotos da minha rua e principalmente o meu vizinho não sabem, mas são todos personagens importantes em minha mente fértil de menino de quinze anos.” — trecho do prólogo do livro
Ainda nesta fase, o personagem tem sonhos eróticos e registra todos em seus diários. Sonhos estes que deturpam o senso de certo ou errado. Desejos confusos que, sem nenhum tipo de apoio, conselho ou estrutura familiar, se enraízam na mente dele, fazendo-o criar um estilo mental regado de inúmeras ideias e preconceitos contra si próprio e contra qualquer outro que se diferencie do que ele é, ou de suas ideias.
“Sr. Villela, meu amigo imaginário” não é um livro para os mais sensíveis.
Além de ser um livro erótico gay repleto de narrações explicitas, o que torna o livro proibido para menores de dezoito anos, “Sr. Villela” também aborda inúmeras temáticas que podem ser gatilho para pessoas sensíveis a estes tópicos. Dentre eles, o abandono infantil; a incompreensão do mundo trans e do universo da bissexualidade; a sexualidade na adolescência; o abuso psicológico; pulsões de vida e morte; entre outros.
Dentro do contexto da história, o livro passa a existir quando aos setenta e cinco anos o personagem principal encontra os inúmeros cadernos que ele transformou em diário durante a adolescência. A partir daí, ele resolve juntar as folhas dos dias que ele considera mais relevantes para contar sua história. É por isso que a imagem da capa lembra um caderno velho.
A primeira página escolhida por ele é a do dia quinze de fevereiro de 1982, na década de oitenta, quando ele se masturba pela primeira vez. Metade da história do livro acontece neste período, onde o preconceito sexual era ainda mais explicito no Brasil.
São nos paradigmas e ideais desta época que história está inserida; onde a maioria das pessoas ou não se importavam, ou tratavam homossexuais como aberrações.
"Olhando ao redor, nada faz sentido. Estamos flutuando em uma bola gigantesca no meio do nada e há pessoas que se preocupam com qual parte do corpo alguém usa para sentir prazer. É isso mesmo?!" — trecho do livro em que o personagem reflete sobre a homossexualidade.
Outro ponto difícil de se digerir no livro é o descaso e desafeto dos pais, não por conta da sexualidade do filho, porém, por viverem um grau avançado do alcoolismo.
Livro ilustrado
O livro erótico gay ainda conta com sete ilustrações estilo Yaoi realizadas pela desenhista Clarissa Juliani.
As imagens foram realizadas no inicio de 2015, no ano da publicação do livro pela editora metanoia.
As ilustrações aparecem de maneira espaçada, com o objetivo de se proporcionar ao leitor um estímulo visual de cada etapa da vida do personagem principal, narrada entre 1982 e 2001.
Tanto na versão digital quanto na versão física do livro, as imagens aparecem como se tivessem sido desenhadas e coladas nos cadernos com pedaços de fita adesiva.
Uma das imagens mais marcantes do livro é quando o personagem narra o seu dia-a-dia, durante o almoço, enquanto a mãe coloca a panela na mesa, já com uma garrafa de cachaça na mão.
Livro erótico gay — como nasceu o “Sr. Villela” (parte do prólogo da segunda revisão do livro)
O livro “Sr. Villela, meu amigo imaginário” foi escrito entre 2005 e 2006, durante as minhas madrugadas de insônia, quando eu tinha entre quatorze e quinze anos. A vontade de escrever um livro erótico gay surgiu durante um bate-papo da uol, e logo toda a história do livro foi tomando forma em minha cabeça. Em questão de segundos, me vi dominado por essa trama imaginária e motivado a escrevê-la com afinco durante seguidas noites.
Quando eu concluí essa história, com apenas 15 anos, escondi o arquivo do livro em um disquete, dentro de uma pasta, dentro de inúmeras outras subpastas; ninguém poderia jamais ter acesso a esse conteúdo, eu pensava. Seria como mostrar a todos o que havia dentro da minha cabeça. Nessa época, imerso num contexto homofóbico, assim como o personagem, eu também morria de medo.
Em 2015, quase dez anos depois, mais maduro e melhor resolvido quanto a minha sexualidade, encontrei o arquivo com o livro e após uma rápida leitura, fiz uma pesquisa online sobre editoras LGBTQIA+ e enviei o texto para a editora metanoia. Para minha enorme alegria e surpresa, dois meses depois, no dia 27 de abril, recebi um e-mail positivo da editora chefe Léa Carvalho:
“Seu original está de acordo com nossa linha editorial e nos sentiremos honrados em publicá-lo”, foi a primeira linha do e-mail que recebi. Eu mal podia acreditar! “Sr. Villela” sairia de uma subpasta em meu disquete para o mundo!
Foram quatro meses de trabalho em conjunto com a editora metanoia e outros profissionais para edição, revisão, ilustração, registros, marketing e diagramação; para, finalmente, em 21 de agosto de 2015 lançarmos oficialmente “Sr. Villela, meu amigo imaginário”, em grande estilo, com direito a champagne e buffet, na maravilhosa (e infelizmente hoje fechada) Livraria Cultura na cidade de Cinelândia, no Rio de Janeiro.
Além da realização da publicação em si, “Sr. Villela” me aproximou de milhares de leitores que, como o personagem principal e eu mesmo, tiveram que lidar com os desafios da sexualidade na adolescência sozinhos.
Por último, é importante dizer que…
“Sr. Villela, meu amigo imaginário”, não tem o objetivo de chocar o leitor, nem por ser um livro erótico gay escrito por um adolescente, nem pelo personagem adolescente narrar seus desejos e experiências de maneira explicita num diário. O livro é, simplesmente, um exemplo do óbvio: de que a sexualidade existe durante a adolescência, e que ela não deve ser ignorada ou negligenciada pelas instituições educadoras nem, muito menos, pelos pais.
O livro possui inúmeras ideias controversas e opiniões que eu, nem de longe, compartilho com o personagem principal. Entretanto, não escrevo com o objetivo de pintar um mundo mais colorido, mas, quem sabe, um mundo com mais repertório cognitivo. Gosto de escrever histórias que poderiam ser reais na esperança de que, com isso, o leitor possa compreender alguns dos nossos erros do passado, e assim criarmos uma possibilidade maior de diminuir os impactos que alguns resultados possam causar no presente.
“Sr. Villela” não é um livro para ser interpretado apenas de maneira direta. Ele é um livro para ser analisado dentro de um contexto, com ideias para serem entendidas e, algumas delas, questionadas.
Conheça o book trailer oficial do livro:
Caso você tenha interesse em conhecer essa história, você pode comprar a versão e-book do livro ao clicar aqui, e a versão física ao clicar aqui.
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