Durante a segunda revisão de “Sr. Villela, meu amigo imaginário”, me peguei com inúmeras músicas na cabeça. Enquanto eu revisava os capítulos, surgia em minha mente canções que representavam, quase que em sua totalidade, a situação que o personagem estava vivendo. Ao terminar a revisão, fiz uma lista rápida dessas música e decidi fazer uma brincadeira: se esse livro fosse um filme, qual seria a trilha sonora? Assim nasceu a playlist Sr. Villela.
O resultado, com a lista completa de músicas, você confere aqui:
⚠️ Spoiler alert ⚠️
Abaixo, você confere uma explicação sobre a escolha de cada canção. Caso você ainda não tenha lido o livro “Sr. Villela, meu amigo imaginário”, não leia a continuação dessa postagem agora. No final do livro você encontrará um lembrete para voltar aqui; enquanto isso, aproveite as músicas da playlist acima.
Se você ainda não leu “Sr. Villela” e quer conhecer mais sobre o livro, clique aqui!
Playlist Sr. Villela – A escolha das músicas:
Confira abaixo uma explicação breve da escolha de cada música da playlist, organizada de acordo com a cronologia da narrativa da história.
Como o livro está ambientado nas décadas de 80 e 90, foram escolhidas principalmente músicas que se ouvia nessa época.
O nomo do cantor(a) que aparece ao lado da música na explicação abaixo, é o nome de quem interpreta a versão da música que aparece na playlist, podendo ser este o cantor oficial da música ou não.
For fim, antes de conhecer os detalhes de cada escolha, é importante reprisar que a “playlist Sr. Villela” nasceu de uma brincadeira; e que a escolha das músicas não tem nenhum caráter promocional ou conexão com os artistas, sendo apenas uma divulgação orgânica das canções.
1. Carne e osso – Zélia Duncan
"Alegria do pecado, às vezes, toma conta de mim" — trecho da música "Carne e osso".
Essa é a frase que inicia a canção da niteroiense Zélia Duncan e, quando eu estava ainda revisando o terceiro parágrafo do primeiro capítulo do livro, essa música me veio a cabeça.
Essa canção representa no livro a descoberta do “pecado” do prazer no próprio corpo, que o personagem aprende. “Me cobrir de humanidade me fascina e me aproxima do céu”, a música diz, e, na minha cabeça, essa frase encaixa como uma luva na última frase do primeiro capítulo do livro, onde o personagem se orgulha e se divina da experiência de ter se masturbado.
Essa música também cai como uma luva ao terceiro capítulo do livro. Comenta aqui na postagem se você concorda. 👍🏻❤️
2. Nosso estranho amor – Marina Lima e Caetano Veloso
"Não quero sugar todo o seu leite, nem quero você enfeite do meu ser, apenas te peço que respeite, o meu louco querer" — trecho da música "Nosso estranho amor".
Se alguém tiver uma música que se encaixe melhor no querer de Denis, o personagem principal, pelo vizinho Flávio Lemaire, pois que me diga!
Quando Denis conhece Flávio, por mais que o personagem chegue a perguntar ao diário se seria possível ele estar amando outro homem, fica nítido através de seus pensamentos e atitudes, que tudo o que ele tem pelo vizinho é um louco querer; um querer impulsionado pela solidão e descaso total da família.
3. Lanterna dos afogados – Cássia Eller
Depois de conhecer o prazer sexual que um outro corpo pode provocar ao seu, não leva sequer dois meses para surgir em Denis a curiosidade de viver experiências com outros garotos, além de Flavio.
Essa seria a música tema do momento em que ele se envolve com o engraxate de sapatos, Pablo. Primeiro porque ele está numa fase ruim por conta dos pais, que estão afundando de maneira exponencial por conta da bebida; depois, pelo descaso de Pablo após a experiência dos dois juntos.
Além de estar na “lanterna dos afogados”, agora ele se sente deixado ali sozinho, torcendo para que outros não demorem para chegar.
"Uma noite longa, para uma vida curta, mas já não me importa, basta eu poder te ajudar; e, são tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora, mas ainda sei me virar. Eu to na lanterna dos afogados, to te esperando, vê se não vai demorar" — trecho da música "Lanterna dos afogados".
4. Metamorfose ambulante – Raul Seixas
Logo após ser menosprezado por Pablo, Denis questiona incontáveis questões, como “por que as pessoas se importam tanto com a forma que os outros têm de sentir prazer?”; “por que as pessoas bebem?”; “Sr. Villela o escutaria se não fosse um caderno inanimado?”; “por que ele precisa esconder o que ele é para se manter vivo?”; “num mundo em que vive, cheio de incoerências e preconceito, conhecerá ele um dia a verdadeira felicidade?”.
Conversando com um garoto que compra bebidas no bar em que ele trabalha, e logo em seguida com o tio, o dono do bar, ele se dá conta de que as pessoas agem da forma que agem, no automático e seguindo um padrão pré-estipulado, para não serem taxadas de caretas pelos outros.
Por questionar tudo isso, fica claro que ele prefere ser “uma metamorfose ambulante”.
"Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo; sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou..." — trecho da música "Metamorfose ambulante".
5. Qualquer coisa – Caetano Veloso
Essa música seria uma boa opção de trilha sonora para a cena do caminhão e os seguintes cinco meses da vida de Denis, já que o livro dá um salto de cinco meses logo após essa cena, deixando claro que essa é a rotina do personagem.
Com o passar dos encontros, o personagem principal, que parece nunca ter aprendido a amar, vê Flavio cada vez mais “de longe”, objetivando apenas o prazer. “Eu não sabia como fazer, mas, fazer era meu objetivo“, ele diz no início do capítulo, deixando claro que “estar”, “conviver”, “amar”, “criar laços afetivos”, nada disso faz parte do vocabulário dele. “Mexer qualquer coisa dentro doida”, parece ser a única maneira dele sentir prazer com um outro…
"Esse papo meu tá qualquer coisa e você tá pra lá de Teerã... Qualquer coisa, você já tá pra lá de Marrakesh; mexe qualquer coisa dentro, doida, já qualquer coisa doida, dentro, mexe." — trecho da música "Qualquer coisa".
6. O nosso amor a gente inventa – Cazuza
Quando o personagem principal lê a carta do vizinho e tudo termina entre os dois, Denis não sente nada. Pela percepção dele, o “eu te amo” e as frases iniciadas por “meu amor” que eles usavam, era apenas uma mentira criada pelos dois.
Não pode ver que no meu mundo, um troço qualquer morreu; num corte lento e profundo, entre você e eu. O nosso amor a gente inventa, pra se distrair..." — trecho da música "O nosso amor a gente inventa".
7. A seta e o alvo – Paulinho Moska
Revisando o livro me dei conta de que “Dora”, a irmã mais velha de Denis, é uma personagem que, apesar de pouco explorada no livro, tem uma importância impar na história e na vida de Denis.
A música do carioca Paulinho Moska representa perfeitamente não só o capítulo em que Dora tenta convencer Denis a não ir para o Rio, como também quase todas as interações dos dois. Dora tem os dois pés no chão, um por ela e outro pelo irmão; já Denis, é uma alma que quer se lançar o mais rápido possível no espaço, e degustar do futuro sem deixar de ser quem ele é, com liberdade.
"Eu lanço minha alma no espaço, você pisa os pés na terra. Eu experimento o futuro e você só lamenta não ser o que era, e o que era? Era a seta no alvo, mas o alvo, na certa não te espera" — trecho da música "A seta e o alvo".
8. Sangue latino – Secos & Molhados
Depois que eu terminei a playlist Sr. Villela, eu ainda precisava de uma música que representasse a saída de Denis da casa dos pais e sua chegada e estabilização no Rio de Janeiro, já que, diferentemente das outras cenas, nenhuma música para esse momento me veio a cabeça durante a revisão. Foi aí que, olhando para as sugestões de músicas que a Spotify sugere para a playlist, encontrei “Sangue Latino” como primeira recomendação. Ouvi a música boquiaberto! Toda a sensibilidade da banda Secos & Molhados representa 100% esses momentos que faltavam, desde jurar mentiras e seguir sozinho; assumir os “pecados”; a vontade dele de não estar vencido e sempre continuar, mesmo que por seus “caminhos tortos”; até o resumo disso tudo: o sangue latino.
"Jurei mentiras e sigo sozinho; assumo os pecados... Os ventos do norte não movem moinhos, e o que me resta é só um gemido. Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos, meu sangue latino(...) e o que me importa é não estar vencido" — trecho da música "Sangue Latino".
9. Balada do louco – Ney Matogrosso
Depois de se estabilizar 100% no Rio de Janeiro em 1990, a crise chega e todo o dinheiro das poupanças é confiscado. Enquanto todos estão loucos, Denis se sente tranquilo e estável, alheio a histeria coletiva e se sentindo mais forte e autossuficiente do que nunca.
"Se eles têm três carros, eu posso voar; se eles rezam muito, eu já estou no ar; Mais louco é quem me diz e não é feliz" — trecho da música "Balada do louco".
10. Menino bonito – Rita Lee
No mar de calmaria em que Denis vive ele conhece Léo, um garoto mais jovem que ele que trabalha em um bar; assim como ele mesmo trabalhava quando era mais jovem. Ele se sente adicto pelo garoto, depositando nele toda sua razão de existir.
"Lindo, e eu me sinto enfeitiçada, correndo perigo, seu olhar é simplesmente lindo. Mas, também não diz mais nada, menino bonito" — trecho da música "Menino bonito".
11. Quase um segundo – Cazuza
Eu tinha em mente inúmeras músicas para representar os momentos de paixão de Denis e Léo, mas preferi resumir todas elas nesse clássico do eterno Cazuza.
"Às vezes te odeio por quase um segundo, depois te amo mais... Teus pelos, teu gosto, teu rosto, tudo. Tudo que não me deixa em paz. Quais são as cores e as coisas pra te prender?" — trecho da música "Quase um segundo".
Nessa música fica representada a essência do sentimento de Denis: a paixão louca de gostar de tudo no garoto e suas estratégias para não perdê-lo, como a viagem para Bahia, o discurso sobre genética no quarto da casa dos pais de Léo, e a viagem surpresa que ele faz para o Sul.
12. Flor da pele / Vapor barato – Zeca Baleiro
Ao perder Léo, Denis passa a “andar a flor da pele” e, com isso, tudo parece ir de mal a pior.
"Ando tão à flor da pele, que qualquer beijo de novela me faz chorar. Ando tão à flor da pele, que teu olhar flor na janela me faz morrer" — trecho da música "flor na pele".
Por ser um remix com a canção “Vapor barato”, a música se encaixa ainda mais perfeitamente a essa fase de Denis, que se sente “tão cansado”, já que ele sofre impactos em todas as áreas da vida: amor, carreira e, para a sua surpresa, até com a família.
13. Doce vampiro – Rita Lee
Se eu tivesse que escolher uma música que representasse o livro inteiro, seria essa da rainha do rock, a paulista Rita Lee. A letra da música é autoexplicativa ao que se segue na história, onde o personagem vive pulsões de vida e morte em festas pelas madrugadas carioca.
Se esse livro fosse um filme, eu imagino essa música tocando quando o personagem entra pela segunda vez na festa da casa que um amigo o convida.
"Venha me beijar, meu doce vampiro, na luz do luar. Venha sugar o calor de dentro do meu sangue vermelho, tão vivo, tão eterno veneno, que mata a sua sede, que me bebe quente como um licor, brindando a morte e fazendo amor" — trecho da música "Doce vampiro".
14. O último dia – Paulinho Moska
Depois de viver intensamente as noites de festa, Denis é tomado por um sentimento de morte; essa música representa a resposta dele mesmo a própria situação: a de viver como se fosse o seu último dia de vida.
"O que você faria se só te restasse esse dia, se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria. Andava pelado na chuva? corria no meio da rua? entrava de roupa no mar? trepava sem camisinha?" — trecho da música "O último dia".
15. Como yo quiero – Kid abelha
Na sequência da história, Denis conhece um espanhol chamado Alejandro que, com um violão na mão, canta para Denis essa música.
"Num dia trouxe o vilão para o meu quarto e sentados no meu sofá, cantou para mim uma versão da música brasileira 'como eu quero' do 'Kid Abelha' uma das minhas bandas favoritas 'Oh, te quiero así como yo quiero'" — trecho do livro "Sr. Villela, meu amigo imaginário".
16. Cálice – Renato Braz, Breno Ruiz, Milton Nascimento, Roberto Leão, Chico Buarque, Mario Gil.
Alejandro, que é superprotegido pelos pais, usa um trecho da música de Chico Buarque para explicar para Denis que preferiria que sua família não o amasse, porque teria feito o mesmo que Denis fez e ido para bem longe.
"De que me vale ser filho da santa? Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta, tanta mentira, tanta força bruta" — trecho da música "Cálice".
Por aparecer no livro, essa música entra também na playlist, e por Alejandro, um europeu, cantá-la, elegi uma versão especial com várias vozes, inclusive a do cantor português Rodrigo Leão.
17. Socorro – Arnaldo Antunes
Só o nome dessa música já bastaria para escolhê-la para representar na playlist a sequencia dos fatos. Separado também de Alejandro, apesar de forte e reerguer-se profissionalmente, a solidão de Denis poderia ser definida como um grito tão agudo quanto inaudível de socorro.
"Socorro, não estou sentindo nada, nem medo, nem calor, nem fogo, nem vontade de chorar, nem de rir" — trecho da música "Socorro".
18. A carta – Erasmo Carlos
A resolução do livro começa a se desenhar quando Denis recebe duas cartas, uma de Alejandro e outra de Léo. A música do genial Erasmo Carlos, por falar das expectativas de se enviar uma carta, foi a escolhida na playlist para representar esse momento, também por eu ter encontrado essa versão fantástica dele em parceria com Renato Russo.
Talvez tu não a leias mas quem sabe até darás resposta imediata me chamando de "Meu Bem". Porém o que me importa e confessar-te uma vez mais, não sei amar na vida mais ninguém… — trecho da música "A carta".
O que você achou da playlist?
Gostou da brincadeira? Que tal comentar aqui embaixo qual música você acha que mais se encaixou na cena escolhida?
E, se “Sr. Villela, meu amigo imaginário” é o primeiro livro meu que você lê, te convido a conhecer também “Enquanto ela desenhava” e “O rinoceronte Frederico“.