Posso contar nos dedos quem realmente já fez algo por mim sem nenhuma pretensão. Pessoas que de forma gratuita me escutaram, se importaram e tentaram me impulsionar sem ser oportunista. Pessoas que seguiram ao meu lado mesmo sem ter nada a ganhar em troca.
Sendo bem sincero, eu não julgo quem se aproxima por interesse, muito menos quem se afasta ao perceber que não tem mais nada a ganhar. Se pararmos para observar nossa evolução enquanto espécie, assim como a nossa história; a história dos Homo sapiens, vamos perceber que nós só nos tornamos quem nos tornamos pelo que somos: OPORTUNISTAS.
Em última análise, ser “oportunista”, ou seja, se aproveitar de algo ou alguém, é uma das característica mais isoladas da nossa espécie. Só nós somos mestres nisso.
Nosso histórico de oportunista
- Acredita-se que, nos tempos da pré-história, o homem iniciou sua evolução comendo a carcaça de bichos caçados por outros animais. Quero dizer, roubávamos estas caças.
- Acredita-se também que nós eliminamos todos as outras espécies de homens que existia na terra; o Homo neanderthalensis, por exemplo. E fizemos isto, ao que tudo indica, por uma simples questão territorial;
- Toda a nossa geografia é demarcada pelo oportunismo, com colonizações e guerras;
- A história política do mundo é repleta de oportunistas, com golpes e regimes autoritários e egocentristas.
Há quem diga que a nossa “característica única” seja “raciocinar”, que é esse o nosso dom: o de usar a nossa inteligência em prol de conquistar algo. A estes, aos que pensam assim, sugiro que contratem um adestrador para seu cachorro. É bem provável que este adestrador ensine o cãozinho a sentar, deitar e rolar, tudo com um simples comando, em troca de qualquer petisco que seja. Ao contrário, a manipular e “se aproveitar”, isso adestrador nenhum jamais seria capaz de ensinar a um fiel amigo de quatro patas. Só nós somos especialistas em mentir e enganar.
Oportunismo e egoísmo
Uma amiga uma vez me disse que “se algo não está lhe dando dinheiro ou lhe fazendo gozar, de nada lhe interessa“; quanto autoconhecimento!!! Considerando que ela é TDAH e, portanto, imediatista, vou generalizar a frase dela para “se algo não tem o potencial de gerar — no futuro — dinheiro ou algum prazer, de nada serve ao ser humano” (lembrando que tem uma postagem aqui no blog falando sobre TDAH, é só clicar aqui).
A frase da minha amiga me fez lembrar de uma música de Raul Seixas, em que o baiano afirma, a todo pulmão, que “é egoísta” e questiona “por quê, não?”. Entrei na vibe dele e fiquei pensando: se existe algo que todos os seres vivos possuem em comum, essa é a luta pela sobrevivência e, portanto, a continuação da própria espécie. Tendo isso em vista, e se o egoísmo faz parte da nossa evolução, assim como o oportunismo; seria, no final das contas, algo assim tão errado pensar mais em si?
Seguindo esta mesma linha, seria o egoísmo fruto do oportunismo? Ou, ao contrário disso, estaríamos nós evoluindo, na verdade, rumo ao caos? Seria, portanto, errado priorizar a sobrevivência ou deveríamos acreditar mais que o que importa é a ressureição, ou seja, a vida que vem depois desta aqui?
"E você chora, você reza Você pede, e implora... Enquanto eu provo sempre o vinagre e o vinho Eu quero é ter tentação no caminho Pois o homem é o exercício que faz" "Eu sou egoísta"; trecho da música de Raul Seixas.
Pra que serve este desabafo?
Meu objetivo com esse desabafo público é o de colocar em evidência uma das maiores sombras da humanidade: o nosso instinto oportunista, enquanto espécie. Raul disse em outras letras que “tem medo de amar”, o que pode justificar seu grito seco em prol do egoísmo.
Da minha parte, acredito que apenas conhecendo o nosso sistema cerebral, e a nossa história, é que somos capazes de pensar com total clareza. Apenas sabendo quais são as nossas sombras, temos a possibilidade de escolher tornar-nos pessoas melhores. Por simplesmente reconhecê-las (Se você não conhece o conceito de sombra na psicologia, clique aqui ) .
Não vejo problema algum em colocar a si mesmo e aos seus em primeiro lugar, isto é legítimo, biológico e evolutivo. Fazendo isto de modo consciente e honesto, nós expandimos. O problema é quando somos sufocados pelo nosso eu oculto, a sombra; e, por consequência, provocamos o mal do outro em prol do bem da nossa comunidade.
Se você chegou até aqui e ainda não entendeu do que esse texto trata, ele fala sobre permitir-se amar a si mesmo. Permitir-se ser o número um da própria vida. Auto-amor não é sobre egoísmo, nem tão pouco sobre prioridades. É sobre organizar as coisas. “Amai ao próximo como a ti mesmo”, essa é a regra número um; só que se você não se ama, daí o mundo inteiro vira um caos.